sexta-feira, 19 de março de 2010


Na igreja de Fortaleza, a primeira missa desta sexta estava cheia de fiéis. Somente em um santuário serão realizadas cinco missas em homenagem a São José ao longo do dia. Depois de muito tempo, a capital cearense amanheceu com chuva nesta sexta.

A tradição não é crença somente do campo. Na cidade, muitas pessoas acreditam e estão confiantes. Várias igrejas da cidade terão missa e procissões na rua com a imagem do santo. E como ele é o padroeiro do Ceará, é feriado nesta sexta e os fiéis terão o dia todo livre para rezar e pedir chuva.

terça-feira, 16 de março de 2010



Marcel Duchamp

Marcelo Rubens Paiva


O amor acaba?
O cara disse. Numa esquina, num domingo, depois do teatro e do silêncio, na insônia, nas sorveterias, como se lhe faltasse energia. Ele não volta? Não deixa rastro ou renasce? Na esquina em que se beijaram uma vez, lá está, na sombra apagada pela luz, na poeira suspensa, na revolta da memória inconformada. Na solidão, lá vem ele, volta, com lamento, um quase desespero, e penso nos planos perdidos, que vida sem sentido… Na insônia, o amor cai como uma tonelada de lápide, e se eu tivesse feito diferente, e se eu tivesse sido paciente, e se eu tivesse insistido, suportado, indicado, transformado, reagido, escutado, abraçado? Na sorveteria, ele volta, o amor, em lembranças. Porque aquele sabor era o preferido dela, aquela cobertura era a preferida dela, aquela sorveteria era a preferida dela, aquela esquina, aquele bairro, aquele clima, aquela lua, aquele mês, aquela temperatura, aquela raça de cachorro, aquele programa de fim de tarde e aquele horário sem planos… No elevador, quantas saudades daqueles segundos em silêncio, presos na caixa blindada, vigiados por câmeras camufladas, loucos para se agarrarem, rirem, apertarem todos os botões, tirarem a roupa, escreverem ao lado do Atlasado: “Eu te amo”. Saudades é amor. Não se tem saudades do que não se amou. O amor não acaba, porque tenho saudades, me lembro dela, me preocupo com ela, torço por ela, e se sonho com ela, meu dia está feito. O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a chance de tê-la de volta, não vejo a paz. Ela é uma trégua na minha guerra pessoal contra a minha paixão por ela. Amá-la me faz bem. Mesmo que ela não me ame, amo amá-la. Continuei amando desde o dia em que terminou. Passei meses amando como se não tivesse acabado. Ficaria anos amando mesmo se não tivesse voltado. O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. Nas tantas músicas que ouvimos, que dançamos colados, trilhas das noites frias em que você sentava em mim nua, enquanto os meus braços imobilizavam os seus. Amor. O não-amor é o vazio. O antiamor também é amor. Eu te amava quando você respirava no meu ouvido. Lembra do meu dedo dentro de você? Amo-te, amo-te, amo-te. Instante secreto, sua boca incha, seus olhos apertam, suas unhas me arranham e você diz: Eu te amo! O amor acabou quando você se foi? Você sentiu saudades das minhas paredes, das cores das minhas camisas, da umidade da minha boca, do cheirinho do meu travesseiro, da minha torrada com mel, das noites pelados assistindo à tevê, dos vinhos entornados no lençol, do café da manhã com jornal, você sentiu falta de atravessar a avenida comigo de mãos dadas, de correr da chuva, de eu te indicar um livro, do cinema gelado em que vimos o filme sem fim, torcendo para acabar logo e ficarmos a sós, você sentiu falta da minha risada, inconveniência, de eu ser seu amante, noivo, amigo e marido, dos meus olhos te espiando, dos meus dentes mordendo e mastigando, ficou tanto tempo longe e pensou em nós especialmente bêbada ou louca, queria me ligar, me escrever, meu cheiro aparecia de repente, meu vulto estava sempre ali, acaba? Diz que acaba. Como acaba? Não acaba. Diz, não acaba. Repete. Falei? Não acaba. Pode virar amor não correspondido. Pode ser amor com ódio, paixão com amor. Tem o amor e o nada. Ah, mais uma coisa. Antes que eu me esqueça. O amor não acaba. Vira. Se acabar, não era amor.

Ferreira Gullar

Não-Coisa

subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa

sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa ë fechada
à humana consciência.

O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Na Imaginação

Gilberto Gil

Na imaginação
Eu já sei
Falta ao meu coração
Ser o rei
Ser o rei e ordenar
O prazer
Da emoção de amar
E viver
Cada respiração
Como for
Como for cada vez
A paixão
Cantar cada canção
Como for
Como for cada vez
Todo amor


Já se diz tanto...Até estudos para isso já se tem...
Tratar é só sentir...equilibrar o que possa a ser "toque".
Não...não vós falo de alguma patologia, mesmo sabendo que no Greco-romano Pathos é Paixão, então será o estudo da "paixão"!!?
Mas como já disse, tudo é do ângulo que se vê, e ver não é o ato de avistar, creio ser algo maior, ver é significar a coisa, deixar passar ser, adquirir e adaptar a percepção junto aquilo que se atrai.Algo muito subjetivo para se expressar só...Para mim, acredito que a complexidade das coisas tem de ser dividida ao ponte de tentar encontrar "suposiçãos" ás buscas ou até as teórias e trocas que se possa tomar, bem...olha eu aqui trocando com a máquina...kkkk
O que você acha, toque pode ser troca?
Bom, pelo menos as duas começam com T, pode ter lá sua ligação, né!
Será que vejo do jeito que você vê? De que jeito vê?
Eu sou míope!! Tenho 4.50 de Míopia.
Ser